Acupuntura para cefaléia crônica nos cuidados primários: ensaio amplo, pragmático e randomizado
Vickers, AJ, Rees RW, Zollman CE, McCarney R, Smith CM, Ellis N, Fisher P, Van Haselen R. Acupuncture for chronic headache in primary care: large, pragmatic, randomized trial. BMJ. 2004; 328(7442): 744.
Resumido e traduzido por Deborah Giongo G. S. Arauco
A enxaqueca e a cefaléia do tipo tensional são provavelmente as dores de cabeça mais comuns, e dão origem a custos notáveis de saúde, econômicos e sociais. Apesar dos benefícios da medicação, muitos pacientes continuam experimentando a angústia e o rompimento social. Isto leva os pacientes a tentar e aos profissionais de saúde a recomendarem enfoques não farmacológicos para os cuidados para com a cefaléia e outras dores de cabeça.
A cada semana, 10% dos médicos clínicos-gerais da Inglaterra encaminham seus pacientes para a prática da acupuntura, ou eles mesmos a praticam, sendo a cefaléia uma das condições mais tratadas.
O objetivo deste estudo foi determinar a eficácia do uso da acupuntura no tratamento da cefaléia, condição de saúde, dias com ausência da doença, e uso deste recurso em pacientes com cefaléia crônica comparada com a “não utilização da acupuntura no tratamento da cefaléia crônica tipo tensional.
Este foi um estudo randomizado e controlado, realizado na Inglaterra e País de Gales, e que foi solicitado pelo NHS – Centro de Coordenação para Avaliação da Tecnologia em Saúde.
A amostra foi de 401 pacientes com cefaléia crônica, predominantemente enxaqueca e cefaléia do tipo tensional. A idade dos pacientes variou de 18 a 65 anos, e estes informaram uma média de pelo menos 2 crises de cefaléias no mês.
Foram excluídos os pacientes que se enquadravam nas seguintes condições: início das desordens de cefaléia a menos de um ano antes do estudo, ou na idade de 50 anos, ou mais; gravidez, condições de malignidade, cefaléia em salva, suspeita de cefaléia de etiologia específica, nevralgias cranianas e tratamento de acupuntura nos últimos 12 meses.
TRATAMENTO
Os pacientes foram encaminhados aleatoriamente ao tratamento com uso de acupuntura, por 12 sessões, e em 3 meses, além de receberem cuidados médicos gerais e padrões. As prescrições dos pontos de Acupuntura usados foram individualizadas para cada paciente, e estavam a critério do acupunturista. Os pacientes alocados no grupo “não uso de acupuntura” receberam os cuidados habituais do médico clínico-geral.
Os pacientes completaram um diário de cefaléia e do uso de medicamentos nas 4 semanas anteriores, e 3 meses e 1 ano após a randomização.
Foi registrada a severidade da cefaléia quatro vezes por dia em uma escala de seis pontos na escala LIKERT, e o total foi somado para dar uma contagem final.
0 – Nenhuma cefaléia
1 – Somente notada a cefaléia quando prestar atenção à ela
2 – Cefaléia moderada que pode ser ignorada às vezes
3 – Cefaléia dolorosa com condições de realizar o seu trabalho ou suas tarefas habituais
4 – Cefaléia muito intensa, dificuldade de se concentrar e só pode fazer tarefas necessárias
5 – Cefaléia intensa, incapacitante
RESULTADOS
Na análise da contagem de cefaléia, o grupo de “uso da acupuntura” apresentou uma redução de 34% quando comparado à redução no grupo controle, que foi de apenas 16%. A diferença em dias com cefaléia de 1,8 dias em 4 semanas foi equivalente a 22 dias a menos de cefaléia por ano no grupo de acupuntura.
Os efeitos da acupuntura parecem ser mais duradouros particularmente na enxaqueca, melhoria da qualidade de vida, diminuição no uso de medicamentos e visitas a médicos clínico-geral e redução de dias com faltas nas atividades pela doença.
CONCLUSÃO
O uso da acupuntura, além dos cuidados padrões, resulta em benefícios clinicamente duradouros para pacientes de cuidados primários com cefaléia crônica, particularmente a enxaqueca.
A expansão do uso da acupuntura para cefaléia deve ser considerada.