Foi publicada recentemente uma edição especial do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, que reúne os principais avanços e desafios das unidades de saúde de todo país dos últimos 16 anos. O documento conta com a participação de sanitaristas em diferentes momentos e tem como público-alvo, profissionais de saúde, estudantes e a população em geral.
Esta edição especial do Boletim Epidemiológico tem o propósito de apresentar a evolução da situação epidemiológica das doenças e agravos de importância de Saúde Pública e as principais ações, políticas e programas priorizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), desde a sua criação em 2003 até os dias atuais.
“A saúde no país apresentou relevantes evoluções nos últimos anos, com a redução de algumas doenças infectocontagiosas, evolução da qualidade de vida e longevidade das pessoas, melhora de programas de imunizações. Notamos ainda avanços importantes em programas de saúde pública, como a diminuição da mortalidade infantil”, destaca Marcus Yu Bin Pai, médico pesquisador do Grupo de Dor do Departamento de Neurologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e colunista da PEBMED.
Principais avanços
Entre os principais avanços e incorporações tecnológicas ocorridos de 2003 a 2019, muito se tem a comemorar, como:
- A ampliação do calendário vacinal do Programa Nacional de Imunizações com uma com drástica redução da mortalidade por doenças imunopreveníveis;
- A incorporação do diagnóstico da tuberculose baseado em biologia molecular, com a adoção do esquema de tratamento com quatro drogas em doses fixas combinadas e a descentralização das ações de controle da doença;
- A redução da transmissão vertical do HIV, a redução da mortalidade associada à doença e o aumento da sobrevida dos indivíduos com HIV;
- A universalização da vacina contra a hepatite B; com a oferta de testes rápidos para as hepatites B e C;
- A introdução de novos medicamentos e a universalização do tratamento;
- A redução da incidência das doenças negligenciadas, com a raiva, a oncocercose e a filariose em processo de eliminação;
- A redução das taxas de prevalência do tabagismo;
- A publicação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora e, mais recentemente, da Política Nacional de Vigilância em Saúde;
- A implantação do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS);
- O aprimoramento do programa de preparação de profissionais para resposta às emergências em Saúde Pública – EpiSUS;
- O fortalecimento da capacidade de responder aos desastres de diferentes tipologias;
- A implantação da notificação compulsória da violência interpessoal/autoprovocada nos serviços de saúde;
- A gradativa e consistente melhoria da qualidade dos dados dos sistemas de informações, especialmente do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
Desafios
Contudo, outros velhos desafios ainda persistem e se somam a novos eventos de interesse da Saúde Pública, compondo um cenário de enorme complexidade que exige o desenvolvimento de novas competências, a incorporação de tecnologias para respostas mais efetivas e oportunas, e a revisão permanente das estratégias e dos modelos de vigilância adotados:
- As arboviroses, com seu potencial de dispersão, adaptação a novos ambientes, variedade de hospedeiros e sua capacidade de causar grandes epidemias;
- O aumento no número de casos de malária;
- O aumento de novos casos de hanseníase;
- A reintrodução da circulação do vírus do sarampo, após a recente certificação da eliminação recebida pelo país;
- O aumento dos casos de sífilis (congênita, em gestantes e adquirida);
- O controle das zoonoses, com destaque para as leishmanioses e a influenza;
- O declínio das coberturas vacinais.
Desafios recentes incluem epidemia de doenças, arboviroses e zoonoses como dengue, e atualmente o surto de sarampo por problemas na vacinação.
“O SUS é o sistema de saúde utilizado por mais de 75% da população brasileira. Porém, sofre ainda com os problemas crônicos de investimentos do país. Os desafios continuam sendo a melhoria do acesso à saúde para a população em geral com a expansão da rede pública e atenção básica, a disparidade regional entre a qualidade e disponibilidade dos serviços do SUS, a questão da prevenção de doenças incapacitantes e falta de profissionais capacitados, não apenas de médicos, mas também enfermeiros e técnicos”, avalia o médico Marcus Yu Bin Pai.
Na opinião do especialista, para garantir saúde pública de qualidade a toda população o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho. Não somente a falta de médicos, mas também questões mais básicas, estruturais, e questões de acesso ao paciente. “Postos de saúde sofrem com falta de medicamentos, equipamentos básicos, o que poderia desafogar os grandes hospitais. Não basta apenas ampliar os investimentos, é preciso reverter a má distribuição dos recursos e melhorar a infraestrutura nas regiões mais desassistidas”, conclui o colunista da PEBMED.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED.