Overtraining: descubra os sintomas e cuidado com os exageros no treino

A síndrome de overtraining é um problema que ocorre quando o atleta faz mais exercícios do que seu corpo é capaz de se recuperar, acompanhada de sintomas físicos, fisiológicos, cognitivos, sociais e psicológicos.

Nos últimos anos, o hábito de praticar atividade física tem se tornado mais comum. Cada vez mais presenciamos o surgimento de novas academias de musculação, dança, pilates, crossfit, lutas e diversas outras modalidades – e este é um sinal de que há demanda, há pessoas buscando se exercitar, o que é algo muito bom.

A prática de atividade física traz vários benefícios para a saúde, proporcionando qualidade de vida, bem-estar físico, social e psicológico. Ainda assim, é importante manter um equilíbrio e respeitar os limites do organismo.

Assim como o déficit, tudo o que é em excesso também pode ser prejudicial. Acontece que o organismo é muito adaptável – ele responde química e fisicamente aos estímulos da prática de exercício e, por isso, se condiciona facilmente, o que é uma excelente habilidade do corpo humano. O problema é quando este condicionamento físico e químico traz uma dependência.

Continue a leitura para saber mais a respeito do overtraining e descubra quais são os sintomas envolvidos.

A tradução literal de overtraining é “treinamento exagerado” e este termo resume bem do que se trata. Também conhecida como Síndrome do Excesso de Treinamento, ela consiste na exigência do corpo sem a permissão de recuperação adequada entre um treino e outro. Isto pode envolver uma sobrecarga de peso ou de intensidade, um excesso de estímulo ou de repetição, uma frequência anormal de treinos ou, ainda, um aumento brusco da intensidade corporal exercida.

Tratava-se de uma condição muito comum aos atletas de alto nível que se forçavam, por exemplo, a um treino mais intenso durante as temporadas de competição. No contexto atual, no entanto, o overtraining se tornou presente na vida de pessoas comuns, que praticam atividade física sem fins profissionais. Embora haja vários fatores em jogo, isto pode ser explicado pela busca do corpo perfeito, principalmente nas estações mais quentes do ano.

O overtraining é, portanto, considerado uma doença, a qual pode ser dividida em dois tipos diferentes: o simpático e o parassimpático.

• Overtraining simpático: consiste no estímulo do sistema nervoso simpático. É caracterizado pela prevalência de estímulos exagerados e de alta intensidade, o que desencadeia um retardamento da recuperação, pois o tempo de recuperação do músculo não é respeitado – ou seja, rompe-se fibras musculares antes das fibras rompidas na prática anterior serem reconstruídas.
• Overtraining parassimpático: refere-se à inibição, função do sistema nervoso parassimpático. É caracterizado pela ocorrência de fraqueza muscular, falta de energia e falta de condições de mobilidade.

A causa do overtraining ainda é desconhecida, mas acredita-se que há predisposição individual, de forma que as motivações subjetivas façam parte do processo de desenvolvimento da doença. Por exemplo, a motivação de um atleta próximo a uma competição pode levá-lo a treinar em excesso sem permitir que seu corpo recupere adequadamente, desencadeando os processos químicos e fisiológicos que caracterizam a doença.

Outro exemplo seria a motivação de uma pessoa que, ao exercitar-se com muita frequência e mudar os estímulos, começa a se sentir dependente das reações químicas que ocorrem durante a atividade física e, portanto, não permite um descanso, já que o mesmo causaria “abstinência”.

Um dos efeitos do overtraining está relacionado ao nível de neurotransmissores e outros hormônios; os principais que sofrem alteração são a glutamina, a serotonina, a ureia, o cortisol e a testosterona.

Outro fator que pode estar relacionado com o desenvolvimento desta síndrome são outras condições de saúde, como a obesidade, anemia e outras condições psicológicas, como compulsão e dependência química.

Por que acontece o overtraining?

Ao contrário do sedentarismo, há pessoas que desenvolvem uma prática exacerbada de atividade física. A isto se dá o nome de overtraining, patologia que se divide em dois tipos: a forma simpática e a forma parassimpática. Para entender cada tipo, devemos entender antes os sistemas nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático.

O Sistema Nervoso Simpático (SNAS) e o Sistema Nervoso Parassimpático (SNAP) constituem o Sistema Nervoso Autônomo (SNA). A diferença básica entre o SNAS e o SNAP é que o primeiro tem ação excitatória e o segundo tem ação inibitória; assim, ambos funcionam em harmonia, procurando manter o estado homeostático. Ambos os Sistemas podem inervar os mesmos órgãos, porém cada um exerce uma função diferente no local, devido aos receptores de neurotransmissores de cada sistema.

Enquanto o SNAS libera noradrenalina e apresenta receptores adrenérgicos, o SNAP libera acetilcolina e apresenta receptores colinérgicos.

Dessa forma, o SNAS é responsável pela preparação para “luta ou fuga”, apresentando, portanto, o aumento da frequência cardíaca em situações que se percebe necessário, como: broncodilatação, desvio do fluxo sanguíneo para o sistema musculoesquelético, aumento da pressão arterial, dilatação da pupila, aumento da glicemia, etc.

O SNAP, por sua vez, é responsável pela restauração e manutenção. Isto envolve o repouso, a digestão, a diminuição da pressão, a contração da bexiga, o relaxamento dos esfíncteres, a diminuição da frequência cardíaca, a ereção e a diminuição da pupila.

Enfim, pode-se perceber que as funções de cada sistema são antagonistas entre si – e é devido à ação antagonista desempenhada pelo SNAS e SNAP que se torna possível a homeostase.

Consequências do overtraining

Além da sintomatologia, o overtraining pode desencadear outros sinais indiretos, isto é, diversas consequências à saúde, como lesões musculoesqueléticas, microtraumas, edemas, impotência funcional, osteocondrites, fraturas decorrentes do estresse motor, miosites, rupturas de ligamentos, tendinopatias, etc.

Pode haver, também, o comprometimento da saúde mental do indivíduo devido à desestabilização do funcionamento normal. Em outras palavras, a alteração de apetite, de sono, as dores musculares e de cabeça influenciam na sua qualidade de vida, além da percepção de falha influenciar a forma como o indivíduo se relaciona não somente com a atividade física, como também com as falhas nas demais áreas da vida. 

Além disso, vimos que ocorre uma alteração nos estados de humor, o que pode desencadear transtornos súbitos, como episódios depressivos, ansiedade, bipolaridade, etc.

Fisioterapia

A fisioterapia contribui no tratamento da síndrome no que tange a prevenção do agravamento dos sintomas, a recuperação gradual da força antes da retomada da rotina de treinos, bem como a reabilitação dos casos em que ocorrerem lesões ou rompimentos nas articulações.

Apoio nutricional

Por sua vez, o nutricionista ou nutrólogo contribuem com o tratamento, pois faz-se necessária uma dieta adequada para que as necessidades de proteína e demais nutrientes sejam supridas. Assim, os músculos, ossos, ligamentos, corrente sanguínea e demais sistemas conseguem retomar a homeostase para desempenhar suas funções normalmente.

A equipe médica inclui ortopedista, cardiologista, neurologista, pneumologista, psiquiatra – o especialista que fará parte da equipe profissional do tratamento dependerá de cada caso, porém recomenda-se a realização de exames de todos os sistemas correlacionados com o overtraining.

Apoio psicológico

O psicólogo, por sua vez, poderá contribuir com o aspecto emocional e com as consequências da síndrome na vida social, especialmente nas mudanças de humor, prevenindo o desenvolvimento de transtornos psicológicos. 

A psicoterapia também pode contribuir com a elaboração dos fatores que podem motivar a compulsão, para investigar possíveis causas comportamentais e até para relacionar a síndrome com os demais problemas na vida social, profissional e familiar.

Conclusão

O overtraining tem se tornado cada vez mais comum entre as pessoas que frequentam academias de diversas modalidades, porém é muitas vezes negligenciado devido à falta de atenção nos alunos e atletas, de forma que a síndrome passe despercebida e haja diagnóstico equivocado. Uma vez que os sintomas apresentados, como vimos, podem ser indicativos de outras doenças, a pessoa retorna aos treinos e, com isso, várias das consequências vistas neste artigo continuam a ser desencadeadas.

Perguntas frequentes

Quanto tempo dura um overtraining?

O tempo médio de duração do overtraining é de 2 semanas ou meses, dependendo da gravidade.

Como é feito o diagnóstico de overtraining?

O diagnóstico é feito por profissionais da área da educação física ou médicos, de forma clínica e com base nos sintomas relatados pelo paciente.

O que fazer quando estou em overtraining?

É importante fornecer ao corpo um descanso adequado para reparar qualquer tecido danificado. É por isso que é importante focar no descanso ao tratar o overtraining. A recuperação muscular eficaz requer uma dieta equilibrada, incluindo fibras, vitaminas, minerais e proteínas. Além disso, é necessária uma hidratação adequada.

Qual é a diferença entre overtraining e overreaching?

O overreaching traz perda de performance e alterações leves no sono, humor e alimentação do indivíduo. Já o overtraining é uma estafa muscular, onde a pessoa nota grande comprometimento físico e até mesmo mental.

O que tomar para overtraining?

Comer uma variedade de alimentos saudáveis ​​com vitaminas, proteínas, minerais e outros nutrientes é importante, pois isso ajuda o sistema imunológico a se recuperar. Também é crucial manter a hidratação em dia, assim como as consultas regulares ao médico.