A sensação de aumento de crises dolorosas no frio é queixa comum de pacientes. Com o inverno, algumas doenças dolorosas podem se agravar no clima seco e frio, como dores musculares e articulares.
De acordo com o Dr. Marcus Yu Bin Pai, especialista em dor e pesquisador do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, talvez não esteja tudo só na sua cabeça. Na verdade, diz ele, há vários motivos biológicos que podem estar por trás do fato de a sensação dolorosa ser mais intensa durante o inverno.
“A dor é o modo de o nosso corpo dizer que algo está errado. Temos sensores distribuídos por todo o corpo que coletam informações sobre o nosso corpo e o nosso ambiente e as enviam ao cérebro”, explicou o médico. “Quando somos expostos a algo potencialmente perigoso, como as temperaturas extremas—quentes ou frias—estes sensores enviam uma mensagem de alerta para o nosso cérebro. Nós, então, experimentamos esta mensagem de alerta como dor”.
Entretanto, as pessoas normalmente não são expostas a estes extremos e, mesmo assim, muitas irão se queixar de que o tempo frio faz o quadril doer ou torna um impacto no cotovelo ainda mais doloroso.
Uma teoria é a de que o frio causa alterações em nossas articulações
As temperaturas frias podem provocar o encolhimento dos tecidos nas nossas articulações, como joelhos e quadril, é isto as faz puxar as terminações nervosas, acarretando dor articular, explica. No entanto, isto não explica a dor que as pessoas sentem em outras partes do corpo.
Outra explicação é que as doenças, de modo geral, tornam as pessoas mais sensíveis
A artrite reumatoide, por exemplo, é causada pelo ataque do corpo contra si próprio e subsequente inflamação. Esta reação também pode afetar os sensores corporais e torna-los mais sensíveis. Se isto acontece, as temperaturas que seriam percebidas como frio comum por alguém sem artrite reumatoide podem ser tornar dolorosas para alguém com artrite.
Uma terceira teoria é a de que a dor torna as pessoas mais sensíveis
Similarmente à sugestão anterior, a dor em si pode tornar nosso corpo mais sensível. Quando quebramos um osso, o corpo libera os mediadores químicos da dor que são captados por nossos sensores e estes, então, informam ao cérebro que algo terrível aconteceu. Estas substâncias químicas podem fazer estes sensores captarem mais informação. Isto implica que, se estiver frio, então um osso quebrado pode começar a doer mais, ou que um osso recém-consolidado possa voltar a doer. De acordo com o médico, isto pode acontecer apenas porque os sensores presentes nas áreas que você machucou se tornaram mais sensíveis.
E ainda há mais teorias por aí…
Por exemplo, não se sabe ao certo até que ponto a psicologia pode interferir nestas situações. Em geral, sabe-se que, sob condições de estresse, a tendência a adoecer é maior. Neste sentido, a sensibilidade dolorosa aumentada pode ser resultante de uma via similar.
“O modo como você experimenta a dor resulta de uma interação complexa entre a sua biologia, o seu meio ambiente e a sua psicologia”, afirma o Dr. Marcus. “Os processos psicológicos podem tornar a dor mais ou menos intensa. Pessoas muito felizes, positivas e ‘alto astral’ experimentam a dor de modo menos intenso do que aquelas que não são tão felizes”.
Há também algumas teorias baseadas naquilo que o seu corpo faz, de modo geral, quando está mais frio. As suas veias se contraem e menos sangue flui para os seus membros, permanecendo ao redor dos seus órgãos para preservar o calor. Isto significa que a sua pele está mais rígida do que o normal, podendo levar à pressão aumentada sobre os nervos já sensibilizados. Outras pesquisas ainda sugerem que os canais do receptor de frio estão associados aos canais de dor de um modo que os receptores de calor não estão, porém o modo exato como se dá essa ligação e o significado disto ainda é desconhecido.