Por Úrsula Neves
O primeiro estudo comparativo mundial sobre a prática de atividade física x sedentarismo entre as crianças e os adolescentes, lançado recentemente pela Organização Mundial da Saúde (OMS), traz dados preocupantes.
Oito em cada dez crianças e adolescentes de 11 a 17 anos não realizam atividade física suficiente. No Brasil, o índice é ainda maior: 84% dos adolescentes nessa faixa etária são menos ativos do que deveriam. A pesquisa mostra ainda que não ocorreu nenhuma melhora significativa nesses níveis nos últimos 15 anos.
Os dados são de 2016, com a análise de 1,6 milhões de jovens em 146 países. Para a entidade internacional, o ideal é que jovens nessa faixa etária pratiquem, no mínimo, 60 minutos de atividade física moderada cinco vezes por semana.
O documento destacou a diferença nos níveis de atividade física de meninas e meninos no país. Na opinião da analista da OMS, Leanne Riley, co-autora do estudo, é necessário estimular nas meninas o interesse pelas atividades físicas e também investir na criação de espaços onde elas se sintam seguras para praticar esportes.
Enquanto 78% dos meninos brasileiros praticam menos exercícios físicos do que o recomendável, o índice é de 89% entre as meninas. Apenas um em cada três países pesquisados registra diferença de mais de 10% entre os sexos.
Sedentarismo: diferença entre os gêneros
Em relação a 2001, foi registrada no país uma pequena melhora nos índices de atividade física nos meninos e uma queda entre as meninas. Naquele ano, 80% dos meninos faziam menos exercícios do que o recomendado; em 2016, eram 78%. Entre as meninas o índice subiu de 89,1% que não seguem as recomendações em 2001 para 89,4% em 2016.
Mais de 70% dos países analisados registraram uma elevação na diferença entre meninos e meninas na comparação entre 2001 e 2016. No Brasil, a diferença foi de 9 para 11%.
“Esse estudo é interessante porque mostra muitas coisas que já vemos na prática. As crianças e os jovens, de um modo geral, estão fazendo cada vez menos atividades físicas. Há várias diretrizes médicas que recomendam que crianças de 5 a 10 anos devam praticar de 30 a 60 minutos de atividade física por dia, ou seja, brincar, correr ou andar de bicicleta”, diz o fisiatra Marcus Yu Bin Pai, especialista em dor e acupuntura, e colunista da PebMed.
O médico complementa citando um estudo americano, publicado em 2010, em que foi mostrado que 75% dessas crianças não estão praticando atividades físicas suficientes em sua rotina diária.
“A falta de exercícios é um problema não somente a curto, mas a longo prazo, pensando em aspectos cardiológicos, neurológicos, prevenção de doenças e melhora da qualidade de vida. É preciso envolver a família inteira pelo gosto da prática de esportes para motivar a criança, como levá-la ao parque para brincar, correr, ao clube para nadar”, ressalta Marcus Yu Bin Pai.
A importância do estímulo da prática esportiva em casa e na escola
Para a ortopedista Alessandra Masi, especialista em cirurgia de joelho e em longevidade saudável da Clínica Equilibrium Body & Mind, na competição atual entre vídeo game versus bola, por exemplo, o primeiro acaba ganhando.
“Atualmente, é muito mais atrativo para a criança e o adolescente querer ficar em frente de uma tela, seja de um computador ou televisão. Os pais devem “policiar” o tempo que os filhos ficam na frente das telas, pois isso vai repercutir em danos para a saúde física e mental em médio e longo prazo”, afirma a ortopedista.
Na opinião de Alessandra Masi, os pais devem desenvolver bons hábitos para essa criança pensando já na vida adulta, como o desenvolvimento corporal, a resistência óssea, maior flexibilidade de movimentos, além do ganho para a atividade mental, com a produção de endorfina, e o desenvolvimento cognitivo.
Já nas escolas, os professores de Educação Física não devem separar meninas e meninos nas atividades, pelo menos, no início. Para a especialista, é necessário saber integrar todos em equipes mistas com atividades coletivas para ajudar na integração das meninas.
“Penso também que a grade curricular das escolas não leva em consideração a importância da atividade física. Acho que para tornar mais atrativo o momento da aula de educação física deveria ter uma rotatividade maior entre os tipos de atividades. Outra boa iniciativa seria estimular mais a competitividade, como a realização de gincanas e campeonatos entre as escolas para envolver mais as crianças e os adolescentes, independente do gênero”, ressalta a ortopedista Alessandra Masi.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED