Talalgia nada mais é do que dor no calcanhar, um problema que atinge praticamente todas as pessoas em algum momento de suas vidas.
O problema é mais frequente entre as mulheres, especialmente devido ao uso de calçados com salto alto. É também comum em pessoas que estão acima do peso, já que há um maior impacto sobre os pés.
Neste artigo apresentaremos essa condição, suas principais características, causas e tratamentos.
O que é talalgia?
Talalgia é o termo genérico para descrever todo tipo de dor no calcanhar, independente da causa do problema. Na maioria dos casos a dor advém de distúrbios que acometem o tendão de Aquiles, localizado nessa região, ou mesmo de uma inflamação secundária advinda de uma doença associada.
Esse sintoma pode ter diferentes explicações, por isso, também possui diversas formas de tratamento, que irão depender de sua origem e do quadro clínico apresentado pelo paciente.
Muitas pessoas relatam uma sensação de que estão pisando em pregos, incômodo que tende a melhorar ao longo do dia e piorar no início da noite. Além de dor, pode haver ainda edema, achatamento plantar e desvios posturais.
Principais causas de talalgia
Você provavelmente já sentiu dor no calcanhar em algum momento da vida, após um dia de muito trabalho ou uma caminhada longa, por exemplo. Embora nem sempre a talalgia seja indicativo de um problema, é sempre importante checar a sua causa, que em alguns casos pode exigir tratamentos específicos.
Alterações no formato do pé
Pé plano ou chato, varismo e valgismo do retropé são alguns exemplos de alterações no formato do pé que podem causar dor. A forma de caminhar, que também tem relação com esse formato, também pode causar incômodos.
Anormalidades no formato do pé podem já está presentes no momento do nascimento, ou serem adquiridas ao longo da vida, nesses casos, normalmente por sobrecarga da articulação do pé ou mau apoio do pé no chão.
O tratamento para essa condição envolve exercícios de correção postural, uso de órteses, palmilhas e em distúrbios mais complexos, cirurgias. Geralmente uma equipe multidisciplinar direciona o seu andamento, grupo composto por fisioterapeutas, ortopedistas e fisiatras.
Traumatismo
Uma pancada no pé, uma torção, dentre outros tipos de traumas são causas comuns de talalgia. Usar salto alto por muito tempo, ou fazer uma corrida intensa também pode gerar dor.
Nesses casos, dependendo da gravidade do problema, basta fazer repouso e aplicar compressas frias sobre a região, o que ajuda no controle da dor e do inchaço. Se o trauma for mais sério ou a dor persistir, procure atendimento médico para uma avaliação mais detalhada.
Fascite plantar
A fascite plantar é caracterizada pela inflamação do tecido que reveste a planta do pé, o que pode ser provocado por traumas repetitivos ou lesões, ficar em pé por muitos períodos, estar acima do peso, etc.
Essa estrutura é composta por tecido fibroso e é responsável por sustentar o arco plantar do pé, sendo muito exigida em nossas atividades diárias.
Para prevenir essa condição é recomendado alongamento da panturrilha e da ponta do pé, além de exercícios de fortalecimento, que ajudam a prevenir lesões. Tratamentos mais especializados incluem infiltração com corticosteroides, radiofrequência no local ou uso de tala para dormir.
Esporão do calcâneo
Muitas pessoas tratam a talalgia como sinônimo de esporão do calcâneo, principalmente devido à frequência com que essa dor tem relação com o distúrbio. O esporão é uma pequena projeção fibrosa que se forma no osso do calcanhar como resultado da pressão e sobrecarga sobre os pés durante longos períodos.
No que diz respeito a prevalência dessa condição, ela é significativamente mais frequente em pessoas com mais de 40 anos e em indivíduos que sofrem com sobrepeso ou obesidade.
O quadro sintomatológico desse distúrbio é bem característico e ajuda a diferenciar essa de outras patologias. Geralmente, há dor ao levantar-se ou pisar, incômodo mais intenso pela manhã. Se não tratado, o esporão pode acarretar fascite plantar.
Nesses casos, o tratamento costuma ser feito por meio de repouso e anti-inflamatórios, quando tais medidas não são suficientes, a cirurgia pode ser necessária para retirada do esporão.
Bursite do calcanhar
A bursa é uma pequena bolsa presente nas articulações do corpo de maneira geral, e possui como função reduzir o atrito sob essa estrutura durante o movimento. Fala-se em bursite do calcanhar quando a bolsa da articulação do calcâneo, que fica localizada entre o osso calcanhar e o tendão de aquiles, está inflamada, o que causa dor, sintoma que tende a piora com o movimento do pé.
Repouso, compressas de gelo e anti-inflamatórios são recomendados para esses casos. A depender da gravidade do problema pode ser necessária fisioterapia.
Doença de Sever
Também conhecida como apofisite do calcâneo, a doença de Sever é marcada pela inflamação da placa de crescimento do osso calcâneo, e afeta crianças que praticam atividades de alto impacto como corrida, salto, ginástica artística e balé.
O primeiro passo para o tratamento da condição é a redução da intensidade dos treinos. Aplicar gelo durante 20 minutos sobre o local também ajuda no alívio dos sintomas.
Pessoas que sofrem com esse problema devem usar calcanheira dentro dos sapatos e fazer pelo menos 10 minutos de caminhada antes dos treinos.
Gota
A Gota é uma doença inflamatória causada pelo excesso de ácido úrico no sangue, que se acumula na articulação causando inflamação e talalgia. Embora seja consideravelmente mais comum no dedão do pé, pode afetar outras áreas, inclusive o calcanhar.
O tratamento da doença envolve medicamentos anti-inflamatórios como o ibuprofeno e o naproxeno. Além disso, é indispensável o acompanhamento com um reumatologista, que prescreverá a medicação e acompanhará os níveis do ácido, impedindo novas crises de dor.
Quadro clínico
Normalmente, esse sintoma tem início insidioso e se concentra na face interna do calcanhar.
Em geral, a sua progressão é bem similar. A dor piora pela manhã ao apoiar o pé sobre o chão pela primeira vez depois de um tempo em repouso, a medida que nos movimentamos, o sintoma tende a torna-se menos intenso. No fim do dia, o repouso traz alívio, após o agravamento do quadro devido à movimentação constante ao longo do dia.
Outros sintomas como edema e eritema leve podem estar presentes, já que tais sinais caracterizam um processo inflamatório.
A dor geralmente persiste por poucas semanas, mas pode se estender durante anos a depender da sua causa.
Diagnóstico da talalgia
Se a sua dor no calcanhar não melhorar com repouso e compressas frias, procure ajuda médica. Faça isso também se a dor for repentina e grave, se houver inchaço e vermelhidão e se o sintoma interferir na movimentação da articulação.
Durante a consulta, o médico irá avaliar o seu histórico clínico, condições presentes, medicamentos e suplementos ingeridos com regularidade, além de sua profissão, hobby, hábitos e vícios.
Serão feitas perguntas importantes sobre sua queixa, como:
- Quando as dores começaram?
- Você já teve esse tipo de dor antes?
- Você tem dor ao dar os primeiros passos pela manhã ou antes dos últimos passos à noite?
- Como você descreveria a dor?
- É pior ao ficar em pé?
- Você caiu ou sofreu trauma no tornozelo recentemente?
- Você pratica esportes? Quais?
- Como é sua rotina de atividades físicas?
- Que tipos de calçados você usa?
- Você tem outros sintomas?
Para um diagnóstico preciso, é necessário ainda um exame clínico completo, que inclui testes de sensibilidade, de amplitude de movimentos, força muscular e reflexos.
Durante essa etapa da consulta também será revelada a localização exata da dor, que pode ser superficial ou profunda, e está localizada medialmente ou lateralmente.
A palpação da fáscia plantar e do túnel do tarso deve ser realizada, muitas vezes a tensão gerada por esse processo leva a piora da dor. As articulações do tornozelo e sub-talar devem ser examinadas ativa e passivamente quanto à mobilidade.
Exames complementares
Nem sempre os exames complementares são necessários, mas alguns deles são muito úteis para uma melhor compreensão do problema, da dimensão da lesão e de suas causas.
As radiografias com peso corporal geralmente são o primeiro teste e devem ser feitas nas incidências anteroposterior, perfil e axial do calcâneo. Esse exame permite verificar a estrutura óssea e o estado biomecânico do tornozelo.
Além desse, outro exame comumente prescrito perante casos de talalgia é a cintilografia óssea. O teste é muito útil para o diagnóstico diferencial da fratura de estresse do calcâneo quando há persistência da dor mesmo após o início do tratamento.
Eventualmente uma ressonância nuclear magnética pode ser indicada para avaliação diagnóstica da fascite plantar, revelando espessamento ou fratura precoce por estresse do calcâneo. Esse exame é ainda mais útil para excluir causas correlacionadas como fibromatose plantar, tumores e infecções.
Em caso de suspeita de neuropatia periférica ou de síndrome compressiva do túnel tarsal, o estudo eletroneuromiográfico pode auxiliar na investigação
Tratamento
A maioria dos pacientes obtém melhoras significativas com o tratamento conservador, ficando a cirurgia restrita a casos mais graves. Em casos de fascite plantar, por exemplo, a taxa de melhora varia entre 70 e 90%.
Quando falamos em tratamento conservador nos referimos ao uso de medicamentos anti-inflamatórios, repouso e fisioterapia em casos um pouco mais avançados.
Um programa de exercícios para alongamento costuma fazer parte do protocolo tradicional, acelerando os resultados da terapia.
Outros recursos podem cooperar para o alívio da dor, dentre eles o uso de palmilhas confeccionadas sob medida. A ideia é que o desenho dessas palmilhas seja capaz de acomodar e dar suporte ao arco do pé, acolchoando a região do calcanhar e reduzindo a pressão sobre essa estrutura durante as atividades do dia a dia.
Sendo assim, é ainda muito importante que elas sejam confeccionadas com material macio como silicone, feltro e microespuma, dando conforto aos pés.
Em todo caso, reduzir o nível da atividade física e evitar passar muito tempo em pé é essencial.
Como evitar a talalgia?
Ninguém merece sentir dor, certo? Portanto, reunimos abaixo algumas dicas para você que deseja evitar a talalgia.
Escolha bem os seus calçados
Use sapatos adequados, aqueles que dão suporte aos arcos plantares e amortecem o impacto entre o chão e os pés durante o movimento. Isso é essencial, especialmente durante exercícios físicos.
Outro fator a ser considerado é a numeração do calçado, é preciso que seus sapatos lhe sirvam com perfeição. Sendo assim, recomendamos que caminhe um pouco na loja antes de investir em um novo item.
Ainda em relação ao calçado, é recomendado variar o par escolhido, ou seja, não é indicado que você sempre vá ao trabalho usando o mesmo sapato.
Use palmilhas diariamente
As palmilhas fazem uma grande diferença. Elas trazem mais conforto para os pés e ajudam a adaptar os calçados que você já tem ao formato do seu pé, o que elimina a necessidade de grandes mudanças no guarda-roupa.
Insira-as na parte inferior dos seus sapatos, de maneira que amorteçam a base dos seus pés, servindo como uma almofada que separa a planta do pé do solo durante a caminhada.
Exercite os seus pés
Pequenos movimentos já farão uma grande diferença. Faça uma caminhada em sua rua, ou aproveite a oportunidade quando for a padaria do bairro e vá andando ao invés de tirar o carro da garagem.
Embora não seja uma tarefa de grande esforço, é um bom exercício para os seus pés, o que favorece suas articulações e beneficia sua saúde. Lembre-se sempre de fazer alongamentos antes de sair de casa, o aquecimento ajuda a prevenir lesões.
Dê tempo para os seus pés descansarem
Exercitar-se é importante, mas descansar também. Dê ao seu corpo o tempo que ele precisa para descansar, especialmente se já estiver sentindo alguma dor. Elevar os pés é uma boa maneira de ajudar na recuperação articular e muscular, além de aliviar o inchaço.
Mantenha-se em forma
O excesso de peso aumenta a pressão sobre os pés, e por se tratar de uma sobrecarga continua, acaba levando à talalgia. Por isso, mantenha-se sempre em forma.
Sendo assim, procure se alimentar de maneira saudável, dando ao seu corpo todos os nutrientes que necessita para seu pleno funcionamento. Evite o excesso de açúcar, carboidrato e industrializados.
Além disso, mantenha uma rotina de exercícios físicos. A recomendação da Organização Mundial da Saúde é um tempo mínimo de 150 minutos de atividade física semanalmente.
Diante de qualquer indício de dor, interrompa o que estiver fazendo e dê descanso aos seus pés. Se necessário procure ajuda médica.